terça-feira, 19 de abril de 2011

Relatos de vitimas de abusos

Cristina (nome fictício), 17, que começou a ser abusada sexualmente por seu pai com oito anos de idade. Ela relata que seu pai costumava abusá-la das mais variadas formas quando não havia ninguém em casa e dizia que ela não devia contar para ninguém, senão ele ia deixar de gostar da filha.

Cristina conta que na adolescência ela passou a fugir dos desejos do pai, porém ele começou a bater na moça e ameaçá-la, caso contasse para sua mãe. “Eu achava tudo aquilo (sexo) muito nojento, tentava não fazer. Eu tinha muito medo do meu pai e do que ele fosse capaz de fazer comigo, por isso acabava consentindo e fazendo”, conta.

Seu pai não a deixava sair de casa, ter amigos. Até que um dia, uma amiga de sala que achava estranho o comportamento de Cristina – tão apagado e sempre com alguma desculpa para não passear com as colegas – notou uma mancha preta no corpo da garota e fez Cristina contar toda a história. Ambas levaram o caso até a orientadora da escola que tentou ajudar e acabou por mudar o rumo daquela jovem.

“Minha mãe não acreditou em nada do que a orientadora disse, dizia que eu era uma vagabunda e que ficava tentando o meu pai. Ela me botou para fora de casa, fui morar com minha tia que também achava que eu era a culpada. As pessoas da família toda me olhavam esquisito, eu queria morrer”, diz Cristina.

Essa situação é comum, segundo a psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, pois os familiares costumam omitir-se ao problema e defendem o adulto. “A família deveria ser totalmente solidária à criança, uma vez que ela é um ser em formação ainda, que não sabe se defender e que muitas vezes ainda nem tem idéia definida do que seja sedução ou sexualidade”,considera.


Após o episódio, Cristina fugiu de casa e rumou para São Paulo para tentar vida nova, até que encontrou uma mulher que lhe deu assistência, moradia e a encaminhou para uma psicóloga para tentar superar esse trauma. “Não consigo namorar, pois tenho muito nojo que alguém encoste em mim. Morro de inveja de minhas amigas”, coloca.


Tessari afirma que essa aversão ao sexo oposto é algo também normal de acontecer na vítima de pedofilia, que passa a ver o sexo como um ato repulsivo. “Um tratamento psicológico é fundamental para que a pessoa reveja suas crenças e conceitos a respeito da sexualidade, aprender que sexo é algo que faz parte da natureza humana e que pode sim trazer muito prazer”, acredita.

Outra recomendação da psicóloga é que a vítima seja afastada do convívio familiar, pois, as crianças “dificilmente” retornam à família e optam por iniciar uma nova vida. “Vejo que minha vida tomou um rumo totalmente diferente por causa disso tudo e acho que todas as meninas que passam por esse problema devem denunciar sem medo das conseqüências, porque eu sei o sofrimento que elas passam com o pai que não está sendo um pai de verdade”, finaliza Cristina.

Nota da Redação: A pedido da entrevistada, seu nome, bem como o local onde tudo aconteceu foram omitidos da reportagem.
Fonte: O Estadão

Nenhum comentário:

Postar um comentário